terça-feira, 12 de julho de 2011

Minha mãe se matou sem dizer adeus.

"É domingo. Chove choro. Minha tristeza é seca. Efeito natural dela melancolia árida. Pranto que 
torce‑retorce o íntimo; desalento que chega guiado pelo sopro da morte. A vida é ruim; eu sei. Mas 
a não existência me amedronta. Este não saber o que acontece depois que viramos a esquina me 
desespera; pelo silêncio de todos desde toda a eternidade parece que não há nada lá; nem lágrimas 
de Heráclito nem sorriso de Demócrito; mas também poderá ser silêncio justificável: encontrare‑
mos o planeta dos seres‑da‑mudez‑eterna; lugar no qual se prescinde solenemente do subterfúgio 
da fala; da sagacidade da palavra; planeta do idioma‑sentimento; seremos possivelmente asas que 
voam suprimindo pássaros. Sei que tenho medo. Acho que vou pedir torta de peras ao vinho. 
Espero que dê tempo. Para a senhora de humor refinado deu; aquela de vestido preto que estava 
na sexta mesa à esquerda assim que cheguei nesta mesa‑mirante. Agora me arrependo de não tê‑la 
convidado para sentar‑se comigo; falaríamos antes de tudo dos chistes preferidos dele judeu psi‑
canalista de Viena – este que escreveu interessante texto falando do luto falando da melancolia. 
Sempre privei da intimidade desses substantivos; minha tristeza é congênita; meu sentimento de 
pesar me acompanha há sete décadas sem conseguir percorrer toda a sua trajetória. Senhor de‑
crépito sentado à mesa da outra confeitaria não conteve sua felicidade com repentina chegada de 
amigo igualmente vítima da decrepitude. Também ficaria feliz se minha amiga filósofa entrasse 
de súbito neste templo moderno. Mas não virá: posso vê‑la; está escrevendo seu novo romance; 
exatamente neste trecho: se eu pudesse mover as estacas que me fincam ao chão no comando do 
poder de ir e vir impedindo qualquer arrebatamento da vontade e tornando‑me esta imensa réstia 
de potências irrealizáveis. Não nos veremos face a face nunca mais: estou encerrando minha vida 
nesta manhã tempestuosa de domingo que parou para mim. Trovões às vezes se confundem com 
relinchos de quatro cavalos – possivelmente. Sei‑sinto‑pressinto que estão na rua de trás. Tocaia. 
Espreitando talvez chegada dele contundente‑definitivo‑fatal sinal de pontuação. Pode ser tam‑
bém que tudo seja delírio provocado pelo nom plus ultra do sentimento de tristeza – a melancolia. 
Sei que depois desta tempestade não haverá arco‑íris. Adeus minha amiga. Lembrei‑me de súbito 
da quase‑quinta aquela em que você me disse que sabe feito eu que a vida é ruim – mas que não 
devemos contar isso para os pequenos. Sim: não é aconselhável servir de arauto transmitindo às 
crianças tal desígnio inabalável. Sem considerar que maioria cresce vive tempo todo distraída 
sem se dar conta disso. Sei que foi comovente ver naquele momento niilismo cedendo espaço à 
generosidade materna. Minha mãe não foi generosa comigo se matando sem dizer adeus. Você foi 
mais uma vez desprendida doando‑me o adeus daquela que lhe trouxe ao mundo.
Relâmpagos resplandecem todo o espaço que circunda este templo moderno. Natureza lan‑
çando mão de seu poder iluminante para clarear meu caminho em direção ao possivelmente 
absoluto Nada."

Evandro Affonso Ferreira. Mineiro de Araxá, radicado em São Paulo há 40 anos, Evandro Affonso Ferreira surgiu na literatura em 2000. É autor 
de Grogotó! (Topbooks), Araã! (Hedra), Erefuê, Zaratempô e Catrâmbias (editora 34). O trecho publicado faz parte de Minha mãe se matou sem 
dizer adeus, pp. 109-110, recém lançado pela Editora Record. O livro conta a história do último dia de um escritor anônimo que faz pacto com a morte 
para finalmente escrever um livro com começo, meio e fim

quarta-feira, 29 de junho de 2011

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E aos poucos eu fui me fechando em meu casulo de tal forma que aquele casulo era tudo o que eu tinha.
E todo o teatro melodramático da vida era só mais uma novela que você assisti por não ter nada melhor para fazer em um sábado a noite.
E aos poucos eu fui me perdendo em meus livros, em minhas músicas.
E aos poucos eu fui me perdendo dentro de mim.
E aos poucos eu fui me perdendo e ao mesmo tempo encontrando tudo o que eu sempre quis.
E aos poucos o muito que faltava se tornou demais.
E as poucos eu era formado de conquistas, saudades e vontades.

"Ela vive levantando muros pra não transbordar de tanta ausência." (Gabito Nunes)

quarta-feira, 11 de maio de 2011

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É como se a vida fosse uma bebida, uma bebida que eu necessito, mas que não me satisfaz. Eu a saboreio, eu misturo temperos, eu a jogo num liquidificador. Mas sempre houve, e sempre haverá o ingrediente que falta, ah, o ingrediente que falta. Mas o que importa? Continuo correndo, fugindo. Continuo qualquer coisa.

  - Bebo qualquer coisa, desde que seja forte.

sexta-feira, 6 de maio de 2011




Então, sexta-feira, e a última coisa que eu tenho é saco. Finalmente você chega no lugar onde você sempre quis chegar. E aí? É só isso? Você vê que o lugar ficou mais distante. Eu vejo um monte de vida sem sentido. Eu estou sozinho e com muita gente em volta. Gente que me faz sentir mais só. Você olha para as merdas que fez (se é que foi uma merda, ou, se é que foi você mesmo quem fez) e está sem saco pra lembrar, apesar das poucas lembranças, que para você significou coisa pra caramba, mas talvez só pra você. Tô sem saco pra pensar, apesar de que tudo não me foge da mente nem por um segundo. Mas continuo sem saco. Esse é o primeiro (acho) post desconexo do Minha Bandeira. Desculpem, mas desde o início disso tudo, logo ali em cima, tem uma palavra que resume tudo, a todo o momento: ANGÚSTIAS. Não sei se será o primeiro-último, mas angústia é que não falta.


Sempre é agora. E talvez tudo isso não seja realmente "tudo".

quinta-feira, 21 de abril de 2011

The XX

Opa! Haha.

Então, faz muito tempo que não posto alguma coisa aqui, muita coisa acontecendo, mas equilibrado ficará.
Pra voltar aos poucos, hoje trago uma dica muito boa de som: THE XX.



The XX é uma banda de rock alternativo do sudoeste da Inglaterra formada por Romy Madley Croft, Oliver Sim, Jamie Smithe e Baria Qureshi. Com um som peculiar, nada parecido com as bandas britânicas, apesar de uma assumida influência de bandas com The Kills, The XX cresce no cenário Indie com toques particulares em cada música, misturando batidas de hip hop, minimalistas, sons com influências grunges, mas, o mais importante e legal, um som caracteristicamente escuro, simples, vazio e ao mesmo tempo com muito conteúdo. Só ouvindo pra sentir o que é The XX.

                                                                                                                          

 



quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

No meio do caminho tinha uma pedra, tinha uma pedra...

Buuh!


É, andei um pouco sumido daqui - "pouco" foi só pra amenizar, mas foi muito mesmo - por um bom motivo, ou não: o tão temido VESTIBULAR. Essa palavra que faz qualquer moleque tremer de medo. Passei praticamente todos os finais de semana do mês de novembro fazendo alguma prova, prova essa que decidiria - e vai decidir - o meu futuro. Mas explicações a parte e aproveitando o gancho, vamos analisar e discutir sobre o  assunto Vestibular, suas aplicações e sua (des)necessidade.
Bom, pra quem nunca fez - as torturas de Jogos Mortais não são nada em comparação - o Vestibular é basicamente uma prova que o aluno que conclui o Ensino Médio faz, servindo como uma análise da competência deste aluno. A prova vai medir o grau de "instrução" que cada aluno possui, os mais "aptos" obtendo as maiores notas conseguem a vaga, vaga essa que é disputada entre os alunos, disputada mesmo, a maioria dos cursos de Medicina não possuem uma concorrência menor do que 100 alunos para 1 vaga.
Han, até aí “tudo bem”, como tudo na vida, na teoria é perfeito, mas temos que ver pelo lado prático. O vestibular - ou o agora tão difundido e problemático ENEM - serve como uma análise do conteúdo fornecido a cada estudante e como ele administra esse conteúdo. Mas, e quando esse "conteúdo" não é fornecido ao estudante? Como cobrar algo de uma pessoa sendo que essa pessoa não recebeu o que deveria?
Com os seus míseros 5% do PIB sendo investido na Educação, o governo criou o "novo Enem" que serviria como o fim do vestibular, mas como sempre, a realidade desmascara toda a demagogia.
Mas se o Enem não vai conseguir por fim ao vestibular, como isso iria acontecer? Será mesmo necessária a competição por vagas?
Setores da esquerda defendem o livre acesso ao ensino superior, como acontece com um estudante do ensino fundamental, que depois passa para o ensino médio "livremente". Muitos acreditam que isso seria uma ação utópica, pois em um sistema onde cada cidadão é movido pelo interesse e pelo lucro individual, todas as pessoas escolheriam os cursos que oferecem maior rentabilidade (um bando de médico), mas lembrando o que um professor me disse uma vez, "nem todo mundo gosta do amarelo". Ilusão é acreditar que a disputa por vagas no ensino superior é justa em um país onde existem 10 analfabetos para cada 100 habitantes, ou que as Cotas resolverão o problema.

"Aquilo que o mundo me pede, não é o que o mundo me dá."